Pegada de carbono no prato
Laura Almeida
| 21-08-2025

· Equipe de Alimentação
Você já se perguntou se comprar alimentos locais é sempre a escolha mais sustentável? A sustentabilidade na produção de alimentos está ligada a minimizar o impacto ambiental enquanto mantém benefícios econômicos e sociais.
Com o aumento das preocupações climáticas, muitos consumidores se perguntam: devo escolher alimentos locais ou importados para reduzir minha pegada de carbono e apoiar um planeta mais saudável?
A resposta, ao que parece, nem sempre é simples.
O apelo dos alimentos locais
Alimentos locais são produtos cultivados, criados ou produzidos próximos de onde são consumidos—geralmente dentro de alguns centenas de quilômetros. Os benefícios dos alimentos locais são amplamente divulgados. Eles apoiam agricultores e economias locais, reduzem emissões de transporte e, frequentemente, oferecem produtos mais frescos e sazonais.
Muitos acreditam que comer local automaticamente significa uma pegada de carbono menor. Afinal, alimentos que viajam milhares de quilômetros de avião ou navio parecem claramente piores do que os vindos de fazendas próximas. Os alimentos locais também tendem a usar menos embalagens, o que ajuda a reduzir o desperdício.
Complexidade oculta: transporte não é tudo
Embora as emissões do transporte sejam relevantes, elas geralmente representam apenas uma fração das emissões totais dos alimentos. Pesquisas da Rede de Pesquisa sobre Alimentos e Clima (Food Climate Research Network) mostram que o transporte é responsável por cerca de 6 a 10% das emissões de gases de efeito estufa de um alimento típico.
A maior parte das emissões vem das etapas de produção, como o uso de fertilizantes, manejo do solo e criação de animais. Isso significa que um alimento importado, produzido de forma eficiente e com baixas emissões, pode às vezes ter uma pegada de carbono menor do que um produto local cultivado de forma intensiva ou ineficiente.
Alimentos importados: vantagens e custos ambientais
Alimentos importados, especialmente de regiões com clima ideal, podem ser cultivados com menos insumos artificiais como aquecimento, iluminação ou irrigação. Por exemplo, tomates cultivados em clima quente no Mediterrâneo e enviados para um país do norte podem ter impacto ambiental total menor do que tomates produzidos localmente em estufas aquecidas.
No entanto, alimentos transportados por via aérea têm emissões muito altas devido ao uso de combustível, devendo ser evitados por quem busca sustentabilidade. O transporte marítimo, embora mais lento, é muito mais eficiente em termos de energia por quilo transportado.
Os alimentos importados também aumentam a variedade disponível aos consumidores, permitindo o acesso a frutas e vegetais diversos durante o ano inteiro, o que pode favorecer uma dieta equilibrada.
Sazonalidade e métodos de produção
A sazonalidade é um fator essencial. Comer morangos locais na época da colheita geralmente tem uma pegada menor do que importá-los de longe. Mas fora da temporada, a produção local pode depender de métodos energeticamente intensivos, como estufas aquecidas, o que pode gerar mais emissões do que opções importadas.
Além disso, os métodos de produção variam bastante. Agricultura orgânica ou regenerativa tende a ter menores emissões e melhorar a saúde do solo, seja local ou importada. A agricultura convencional pode ser mais intensiva em carbono, mas às vezes produz mais por área de terra.
Embalagem e desperdício de alimentos
A embalagem é outro fator oculto. Alimentos importados muitas vezes exigem mais embalagem e refrigeração, aumentando o desperdício e o consumo de energia. Por outro lado, alimentos locais vendidos em feiras livres ou a granel reduzem o uso de plástico. O desperdício de alimentos é uma preocupação crítica.
Comprar apenas o necessário e armazenar corretamente pode reduzir muito mais emissões do que simplesmente optar por produtos locais em vez de importados.
Sustentabilidade econômica e social
Sustentabilidade não é apenas ambiental, mas também sobre apoiar comunidades. Comprar alimentos locais ajuda a sustentar agricultores, preservar paisagens rurais e manter tradições alimentares locais. Também pode reforçar a segurança alimentar ao reduzir a dependência de cadeias de suprimentos globais, que podem ser vulneráveis a interrupções.
Os alimentos importados apoiam economias no exterior e podem melhorar as condições de vida em países em desenvolvimento, especialmente quando comercializados de forma justa. Apoiar o comércio ético é uma parte importante do consumo sustentável.
Como fazer escolhas alimentares mais sustentáveis?
Então, como decidir o que é melhor? Aqui vão algumas dicas práticas:
• Priorize produtos locais e sazonais, quando disponíveis e acessíveis;
• evite produtos transportados por via aérea, especialmente frutas e vegetais exóticos fora da estação;
• escolha alimentos produzidos com práticas agrícolas sustentáveis, sejam locais ou importados;
• minimize o desperdício de alimentos com planejamento de refeições e armazenamento adequado;
• compre de fontes confiáveis que priorizem o comércio justo e a responsabilidade ambiental;
• considere toda a cadeia de suprimentos e não apenas a distância percorrida;
Perspectivas de especialistas e estudos
Segundo um estudo publicado pelo Revista de Produção Mais Limpa (The Journal of Cleaner Production), a pegada de carbono dos alimentos depende mais dos sistemas de produção do que do transporte. Os autores sugerem focar em práticas agrícolas sustentáveis, combinadas com a conscientização do consumidor sobre sazonalidade e redução de desperdício.
A Fundação para a Alimentação Sustentável (Sustainable Food Trust) destaca que os sistemas alimentares locais fortalecem a resiliência das comunidades e reduzem a quilometragem dos alimentos, mas devem ser equilibrados com métodos de produção eficientes.
Seu papel como consumidor consciente
No fim das contas, não existe uma resposta única. A melhor abordagem é combinar conhecimento com ação—apoiar agricultores locais sempre que possível, valorizar importações obtidas de forma responsável e manter o desperdício sob controle.