Batalha da mobilidade
Amanda Fernandes
| 22-09-2025

· Equipe de Veículos
Entre em qualquer concessionária de carros hoje e você sentirá a tensão no ar. De um lado, marcas tradicionais com décadas de história exibem orgulhosamente seus últimos modelos.
Do outro, empresas jovens promovem designs futuristas e painéis de alta tecnologia. Não se trata apenas de vender carros — é uma batalha para definir o futuro da mobilidade.
A vantagem das montadoras tradicionais
As montadoras tradicionais existem há mais de um século. Elas sabem como fabricar carros em larga escala, manter cadeias de suprimentos globais e entregar veículos confiáveis ano após ano. Sua maior força é a confiança. Para muitos motoristas, escolher um carro não é só sobre recursos — é sobre a certeza de que a empresa estará presente para dar suporte em 10 anos.
Elas também contam com uma infraestrutura enorme: fábricas, redes de concessionárias e centros de serviço espalhados pelo mundo. Isso lhes dá uma vantagem de distribuição que os novos entrantes só podem sonhar. E quando se trata de testes de segurança, regulamentações e durabilidade, as marcas tradicionais têm décadas de experiência para superar esses desafios.
Os pontos fortes dos novos desafiantes
Os recém-chegados, muitas vezes chamados de “startups de veículos elétricos” ou “inovadores da mobilidade”, não carregam o peso dos sistemas antigos. São empresas focadas em software, dispostas a experimentar e totalmente voltadas para tecnologias elétricas e conectadas. Muitas projetam seus carros mais como smartphones sobre rodas, com interfaces elegantes, atualizações remotas e personalização baseada em dados.
Sem estarem presos a motores a combustão, podem avançar mais rápido rumo à eletrificação total. Seus anúncios frequentemente destacam visões ousadas — frotas sem emissão, carros autônomos e veículos que parecem mais gadgets tecnológicos do que máquinas. Isso atrai fortemente os compradores mais jovens, que valorizam inovação em vez de tradição.
Onde as disputas estão esquentando
A competição entre os veteranos e os novatos é mais acirrada em três áreas:
Propulsão elétrica:
As montadoras tradicionais investem bilhões em desenvolvimento de VEs, enquanto as startups constroem sua identidade inteira em torno disso. Quem conseguir fabricar melhores baterias, oferecer maior autonomia e reduzir o tempo de recarga terá vantagem.
Software e conectividade:
As empresas tradicionais correm para alcançar os novos entrantes que consideram o software o coração do carro. Atualizações remotas, aplicativos integrados e conexão perfeita com celulares deixaram de ser opcionais para ser exigências.
Identidade da marca:
Os nomes estabelecidos apoiam-se na herança e na confiabilidade, enquanto as startups apostam em visões arrojadas para capturar a imaginação. Os motoristas estão divididos: alguns querem o conforto de uma marca familiar, enquanto outros buscam um carro que represente um salto para o futuro.
As estratégias híbridas dos grandes players
Curiosamente, algumas montadoras tradicionais não estão apenas se defendendo — estão adotando táticas das startups. Lançaram sub-marcas elétricas, criaram laboratórios de inovação e até fizeram parcerias com empresas de tecnologia. Assim, tentam equilibrar sua tradição com apelo moderno. Por exemplo, um fabricante conhecido pode lançar um SUV elétrico futurista sob uma nova marca, comercializado separadamente de sua linha a gasolina. Isso atrai compradores jovens e tecnológicos sem afastar clientes fiéis que preferem carros convencionais.
Os desafios enfrentados pelas startups
Apesar da empolgação, os novos concorrentes enfrentam dificuldades grandes. Escalar a produção é notoriamente difícil. Criar um protótipo é uma coisa; entregar milhares de veículos no prazo, com qualidade consistente, é outra. Problemas na cadeia de suprimentos, aumento dos custos dos materiais e a complexidade da fabricação frequentemente prejudicam as startups.
O suporte pós-venda também é uma fraqueza. Os motoristas esperam facilidade para manutenção e consertos. Sem centros de serviço espalhados pelo país, as startups correm o risco de frustrar clientes que não conseguem assistência rápida. A confiança, uma vez perdida, é difícil de reconquistar.
Como os clientes decidem
No fim das contas, a disputa acontece na mente dos compradores. Alguns priorizam a inovação: querem tecnologia de ponta e aceitam apostar numa marca nova. Outros valorizam a estabilidade: preferem ficar com uma empresa que enfrentou décadas de altos e baixos. Há também uma questão geracional. Motoristas mais jovens tendem a preferir startups, atraídos pela sustentabilidade e design moderno.
Compradores mais velhos podem se inclinar para as montadoras tradicionais, apreciando redes de serviço estabelecidas e confiabilidade comprovada.
O caminho à frente
A verdade é que talvez não exista um único vencedor. Podemos ver uma mistura: montadoras tradicionais evoluindo rapidamente, enquanto startups amadurecem e aprimoram seus modelos de negócio. Com o tempo, a linha entre “tradicional” e “novo” pode se tornar mais tênue, com parcerias e fusões remodelando o mercado. A competição é saudável, impulsionando ambos os lados a inovar.
Sem as startups, a indústria poderia avançar devagar demais. Sem os players consolidados, escalar novas tecnologias seria quase impossível. Juntos, eles criam um ecossistema dinâmico que acelera as mudanças.
Ao estar naquela concessionária, a escolha entre velho e novo pode parecer difícil. Mas talvez não se trate de escolher um lado. Talvez o que impulsiona o progresso seja justamente o confronto entre eles. Os carros do amanhã provavelmente carregarão um pouco dos dois: o artesanato da tradição e a visão ousada do novo.