Vans elétricas
Mariana Silva
Mariana Silva
| 29-09-2025
Equipe de Veículos · Equipe de Veículos
Vans elétricas
Lembra daquela sensação de desânimo no domingo à noite depois de uma viagem cheia de atividades? Você volta para casa, a mala ainda aberta, já temendo a rotina da próxima semana.
Agora imagine o contrário: retornar de uma viagem sem filas de aeroporto, sem meses de reservas antecipadas e sem uma montanha de roupa para lavar.
Em vez disso, você sai da sua campervan, prepara um café ao lado de um lago tranquilo e volta para casa com as crianças dormindo no banco de trás sem estresse. Esse é o novo ritmo que está conquistando famílias na Noruega, Suécia e Finlândia.
Cada vez mais, elas não apenas sonham com a vida sobre rodas, mas investem nela, com um detalhe especial: estão escolhendo campervans elétricas ou híbridas, não só pela aventura, mas também como um gesto silencioso de cuidado com o clima.
Uma mudança sobre rodas
Em Oslo, mais de 1 em cada 5 novas campervans vendidas em 2023 eram totalmente elétricas ou híbridas plug-in um salto em relação a apenas 4% em 2020. Na Suécia, o aluguel de vans elétricas cresceu 140% entre 2022 e 2024.
E não são apenas aventureiros solitários ou aposentados. São pais, trabalhadores remotos e jovens famílias trocando voos de fim de semana e hotéis lotados por viagens lentas e autoguiadas por florestas, litorais e parques nacionais.
O padrão é claro: as férias em família estão sendo redefinidas. E não se trata apenas de economizar ou evitar multidões. É sobre alinhar o modo de viajar com aquilo em que se acredita.
Ansiedade climática, uma viagem de cada vez
Muitos pais nesses países dizem ter reduzido os voos não por falta de dinheiro, mas porque já não parece certo. Uma pesquisa de 2023 do Conselho Nórdico para Ação Climática mostrou que 68% dos entrevistados sentiam culpa crescente ao viajar de avião, especialmente em trajetos curtos de menos de 500 quilômetros.
É aí que entra a campervan elétrica. Para uma família de quatro pessoas, percorrer 600 km em uma van elétrica gera cerca de 70% menos emissões do que voar a mesma distância, segundo analistas da Universidade de Oslo. Mesmo quando carregada na rede elétrica, que ainda inclui combustíveis fósseis, a pegada de carbono é bem menor principalmente em países onde mais de 90% da energia vem de fontes renováveis.
Não é sobre ser perfeito, diz Lina Bergström, professora e mãe de dois filhos em Uppsala. “É sobre fazer algo tangível. Quando dirigimos até as montanhas, conversamos sobre as árvores, os pássaros. A própria viagem vira parte da lição.”
Trabalho remoto que torna possível
O avanço do trabalho flexível deu força a essa mudança. Com crianças em ensino híbrido e pais conectados a partir de home offices ou até da própria van os fins de semana se transformam em escapadas de quatro dias. Precisa de uma reunião às 10h? Basta estacionar perto de um café com Wi-Fi, se conectar e, ao meio-dia, já estar na trilha.
Na Noruega, quase 40% dos trabalhadores em tempo integral atuam remotamente pelo menos parte da semana. Isso significa que as famílias já não dependem apenas de duas semanas anuais de férias.
Agora fazem microférias três dias aqui, um feriado prolongado ali geralmente a até 300 km de casa. A campervan se torna uma base móvel, sem necessidade de arrumar e desarrumar malas o tempo todo.
E como as vans elétricas podem ser carregadas à noite em campings ou em estações públicas (muitas oferecendo recarga gratuita ou barata para veículos ecológicos), a logística ficou muito mais simples.
Vans elétricas
Design para a vida em movimento
As campervans elétricas de hoje não são vans improvisadas. São pensadas para a vida real. Modelos como a Hymer
E-Premium ou a futura Volvo Recharge Camper trazem:
- Áreas de dormir isoladas para dois adultos e duas crianças, com cortinas blackout e ventilação;
- cozinhas compactas com fogão de indução, pia e geladeira, alimentados por painéis solares ou pela bateria principal;
- piso aquecido essencial no clima nórdico com bombas de calor elétricas;
- gestão inteligente de energia para evitar que a bateria se esgote à noite.
Algumas até vêm com suportes externos para bicicletas, permitindo explorar trilhas sem precisar dirigir. E, com preços médios de aluguel em torno de US$ 180 por noite (ou cerca de US$ 65.000 para comprar nova), elas estão se tornando acessíveis para famílias de classe média, especialmente com incentivos governamentais para veículos de baixa emissão.
Mudando o significado de “viajar”
Não é apenas sobre transporte. É uma mudança cultural. O objetivo deixou de ser acumular pontos turísticos e passou a ser desacelerar cozinhar juntos, acordar em meio à natureza. Na Finlândia, isso é chamado de mökki-ilmiö(fenómeno cottage) o “fenômeno da cabana” onde a desconexão se transforma em renovação.
As comunidades também estão se adaptando. Pequenas cidades instalam pontos de recarga perto de trilhas e miradouros. Parques nacionais oferecem áreas específicas para vans, com descarte sustentável de resíduos e horários de silêncio.
No oeste da Noruega, algumas balsas dão desconto para veículos elétricos, facilitando o turismo entre ilhas.
Até as seguradoras já entraram na onda. Algumas cobrem equipamentos de trabalho remoto dentro da van, e outras oferecem suporte técnico para falhas de software dos motores elétricos um sinal de que não se trata apenas de moda passageira, mas de transformação.
O caminho à frente
Claro, ainda há desafios. A infraestrutura de recarga não é perfeita, principalmente em áreas remotas. Acampar no inverno exige preparo. E nem toda família pode comprar uma van nova mas o mercado de segunda mão cresce rapidamente.
A ideia central, no entanto, já pegou: viajar com consciência não significa abrir mão da alegria. Significa escolher viagens que restauram você e o mundo ao seu redor.
Da próxima vez que for planejar uma pausa, pergunte-se: precisamos ir tão longe para sentir liberdade? Talvez a fuga mais significativa esteja mais perto do que parece em estradas silenciosas, com as crianças rindo no banco de trás e o único som ao parar sendo o vento entre os pinheiros.